Pergunte pra Deus

22/11/2011

Quando deus resolveu entregar envelopes


Eu estou triste, acabei com o meu futuro, como se eu tivesse batido o dedinho do pé numa quina qualquer e a dor fosse eterna. E então, tentando esquecer esse sentimento que me devora por dentro, eu resolvi tentar transcrever algum bom momento, de inspiração e alegria.
O problema que quando a gente tá pra baixo, pensando nas merdas que fez e como normalmente as pessoas são incapazes de corrigir os seus próprios erros, eu não consigo pensar em nada que satisfaça o meu desejo por alegria. Mas entao eu me lembrei de um dia em que deus tirou uns dias de folga e resolveu aproveitar como se fosse um ser humano comum. Desceu até a terra e decidiu que iria entregar cartas.
Ele pensou consigo mesmo: "O que poderia ser melhor que ser um carteiro no Brasil?" Ser deus é que não era, tinha muitas responsabilidades, muitos afazeres e respostas pra dar. Entregando cartas no Brasil ele podia conhecer um pouco de um dos melhores paises que ele tinha feito, conversar com aquele povo alegre, usar roupas bem coloridas e andar de bicicleta. Bikes faziam parte do dia-a-dia de deus nos ultimos tempos, sempre que ele andava de bike ele via tudo mais colorido, mais alegre, mais feliz.
Quando ele chegou no Brasil a primeira decepção foi ao descobrir que ele precisava passar num concurso pra ser carteiro. Ele tentou do jeito mais facil, mas as 3 pessoas pra quem ele ofereceu qualquer coisa em troca das roupas e da bicicleta não acreditaram que aquele gordinho de sotaque estranho fosse deus. A quarta tentativa foi um assalto infeliz. Tentou roubar de um senhor de idade de uma cidade pequena, mas levou uma surra com a bolsa de cartas. As cartas eram muito mais perigosas do que pareciam, mas pra quem tinha construido o universo em 6 dias, desistir não era uma opção. Fez o concurso. Não passou. Apesar de ser deus, aparentemente ele não era inteligente o suficiente pra subir numa bicicleta e entregar cartas. Tentou de novo o concurso.
Nisso passaram anos em que deus estava na terra, tentando ser carteiro. Passou mal da segunda vez e não foi chamado. Na terceira vez ele resolveu estudar, passou na prova teórica em primeiro lugar e reprovou no teste fisico, devia estar gordo demais. Na quarta vez ele já tava de cara, mandou tudo pra puta que o pariu e tomou um porre tremendo antes da prova. Ele não se lembra de ter feito a prova, mas muitas pessoas lembram. Ele chegou no local de provas extremamente bebado e chapado, não conseguia achar a carteira e ficou sentado no chão até fiscal de prova chamar a atenção dele, ela era muito gostosa. Quando a prova começou ele ficou boa parte do tempo passando cantadas nela e em menos de 15 minutos eles estavam transando na frente de 30 pessoas em cima da mesa. Todo mundo achou estranho, mas foi tudo muito rapido, depois do cigarro ele estava vomitando em cima dos proprios pés enquanto chorava pensando na Deusa. Depois de muita confusão e reclamações ele conseguiu desmaiar na carteira em cima da prova que ficou com poucos resquicios de vomito graças ao fato dele ter babado muito enquanto dormia na prova. Quando acordou de sopetão devido a um pesadelo ele se mijou nas calças e incitou a ira nas pessoas. Alguns diziam que ele não podia fazer a prova naquelas condições e outros suspeitavam que ele estava cagado. Saiu para fazer um lanchinho (só porque tinha dado uns pegas nas fiscal gorda, porque isso não era permitido) e voltou com os olhos extremamente vermelhos e um puta cheiro de maconha. Terminou a prova em 5 minutos e vomitou no cara do lado antes de sair. Gabaritou a prova graças a Dircelene, a fiscal gorda, vesga e dentuça da sala dele. Pra prova fisica dessa vez ele resolveu se preparar. Bebeu cinco vezes mais do que na prova escrita. A Dircelene estava aplicando a prova, a unica coisa q ele precisou fazer foi permitir um fio-terra nervoso e nojento.
Meses depois ele estava de Bike, vestindo roupas azuis e amarelas, feliz, com uma bolsa cheira de cartas e boas inteções e foi atacado brutalmente por um dos caras que tinha feito a prova com ele. Ele lembrava vagamente do cara estar todo vomitado e ter sido expulso da sala por ter atrapalhado os demais concorrentes. Enquanto apanhava do sujeito, pouco antes de perder a consciência ele ouviu o cara dizendo que tudo era culpa dele e que ele devia estar usando aquelas roupas e andando com aquela bike maneira. "Essa bike é realmente maneira" pensou deus antes de entrar em coma. Ele acordou 7 meses depois, ainda em recuperação e com a certeza de que ser carteiro era uma das melhores decisões que ele tinha tomado na vida.

03/11/2011

Concrete Jungle


Boa tarde Macacos de todo o Brasil, falando de mais uma tarde fria de quinta-feira, através de deus ou vice-versa, com um sorriso no rosto e um abraço quente companhia. Hoje eu gostaria de anunciar algumas novidades, falando aos ouvidos dourados da nossa juventude macaquinha entregando uma mensagem transcendental, que vem de outro lugar, outros tempos, que somente aqueles com espírito primata pode receber, aqueles com quem deus quer falar.
De uma selva de pedra distante, mas tão assustadora e bonita quanto as nossas, um pequeno macaco pulava de galho em galho numa das maiores metrópoles do país. Muitas pessoas poderiam observar esse ato da natureza de suas janelas, mas pouco se importavam com macaquinhos alegres pulando por aí. Em uma das janelas, com uma postura firme, usando camisa branca e gravata vermelha, pronto pra rotina de trabalho, engomado com uma mão para trás e tomando delicadamente o seu chá da caneca na outra mão. Era destro, com olhar baixo, fixo, frio e firme. O olhar parecia ser capaz de matar um desavisado que cruzasse sua vista por acidente, mas o olhar era perdido, distante, automático. Aquele adulto em pé na janela não via o macaquinho. Só via concreto, vidro e uma sujeira verde e grande por todo o lado de fora do seu pequeno apartamento. Era selva e pedra demais para uma pessoa só. O macaco se virou, colocou o chá restante na pia, juntou a pasta de tecnologia de cima do sofá velho e sujo e abriu a porta. Parado em pé com segurando a maçaneta enquanto se equilibrava para sair de casa, sentia o vento forte no corpo, os pássaros e outros animais voavam e faziam suas coisas com muitas cores e sons, estralos e rapidez, naturalmente lindo, magicamente adaptado as loucuras da civilização. Como havíamos nos tornado tão civilizados? Esse é o grande mistério.