O Ataque Demoníaco
Aquele garoto sempre fora um prodígio, mesmo com sua vida fervilhando em problemas. Aos tres anos viu pela ultima vez o pai, que foi embora da fazenda onde viviam. Ficou ele e mãe, vivendo nos campos. Na escola suas notas eram excelentes, mas o comportamento era terrível, pois sempre se envolvia em brigas com as outras crianças. De toda forma era notável sua resistência desde pequeno, pois acordava muito cedo e andava muitos quilômetros para a ir escola. No começo apanhava dos mais velhos, mas não demorou muito para machucar aqueles que no passado o haviam feito sofrer.
Sua mãe não entendia o que estava acontecendo, pois em casa o garoto era um amor, disciplinado e obediente, ajudando sua mãe a cuidar das terras da família, auxiliando os funcionários e dando bons conselhos nas decisões de sua mãe. Raul tentava, mas perdia a paciência fácil demais com os coleguinhas que o provocavam e era raro o dia que não batia em alguém. Como tentativa de corrigir o problema, foi enviado para trabalhar na mercearia de seu tio e passar a semana na casa dele, até que seu comportamento melhorasse.
Ainda ia pra casa da mãe nos finais de semana e continuava a ajudar na fazenda. Começou a estudar em um colégio melhor e suas notas que já eram boas, ficaram ainda melhores e todos se surpreenderam com o menino. Nessa época ganhou sua primeira bicicleta, que usava para ir da mercearia do seu tio na periferia da cidade até a propriedade de sua mãe na zona rural. Passaram-se alguns anos, o garoto foi colocado com turmas adiantadas, com garotos mais velhos e as brigas recomeçaram.
Novamente a mesma história, os maiores provocavam, ele resistia mas toda semana tinha um acesso de fúria e batia nos outros. Estava praticamente vivendo em guerra com os outros garotos, quando resolveram mandá-lo para um colégio militar. E não podiam ter feito algo melhor, novamente suas notas foram esplendidas e seu comportamento se tornou exemplar. Aos quinze entrou para a faculdade e aos dezessete cursava astrofísica, sendo o mais jovem cabo da Academia Militar das Agulhas Negras, onde ele estudou. Fez cursos variados de geologia com técnicas de sobrevivência e tinha uma das melhores performances esportivas e atléticas do seu batalhão. Muitos o admiravam e acreditavam que ele teria grande carreira no exército.
Porém os problemas também o acompanharam lá. Fez muitos amigos e quase todos o respeitava por ser tão notável, mas como em todo lugar por onde passara, alguns se degradavam de sua presença. Sofreu trotes e teve suas desavenças dentro do exército, mas ficou dos doze aos dezessete sem causar nenhum problema que denegrisse sua imagem ou afetassem sua índole. Lidou com tudo que apareceu de forma muito madura e superou todas as dificuldades, até que soube que a loja de seu tio havia sido assaltada.
Foi para sua cidade no mesmo final de semana e surpreendeu-se com a destruição do lugar. Era uma mercearia que vendia frutas e verduras, assim como vários outros produtos do campo, quase como um mercadinho no limite da cidade com o interior. As prateleiras haviam sido reviradas, derrubas ou destruídas, tudo estava pelo chão e quase tudo havia se perdido. Preocupado, Raul voltou para ajudar o tio, pensando em encontrar quem fosse capaz de fazer aquilo.
O estranho é que nada parecia ter sido roubado, era como se toda aquela violência desenfreada tivesse sido somente para destruir com o lugar. O tio vivia na parte de cima da lojinha, mas naquele domingo haviam passado com sua mãe na casa do campo. O jovem estava revoltado, mas o tio dizia que ele não devia se preocupar, que aquilo tinha sido coisa de um lobo, que vivia as margens da cidade, atacando casas descuidadas durante a noite. Muitos já estavam no encalço da fera, mas até então ninguém havia conseguido abater o animal, que alguns diziam ser um demônio.
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