Pergunte pra Deus

21/03/2013

De volta a vida

Meio de semana, sem opções para sobreviver, o gordo se sentava em uma mesa de escritório, sentindo dor nas costas e tendo que atender velhas chatas. Isso era o seu trabalho, como o de muita gente que trabalha em bancos, lojas, lanchonetes, estabelecimentos de saude, de lazer, de prazer. As vezes ele tinha que realizar o atendimento em pé, para ele aquilo era uma tortura quase pior, do que ter o conforto da sua almofadinha de rosquinha negada. Barrigudo, com uma hérnia, de cabelos brancos, mas careca, com certeza uma figura estranha, comum. Não era de todo gordo na verdade, muito menos preguiçoso, teve de trabalhar muito a vida inteira, inclusive achava que o trabalho era um forma de Deus o punir. Certa vez teve de vender fraldas, no passado vendia verduras de porta em porta e até mesmo dentaduras, e qualquer profissão pode ser chata e cansativa. Rogério era fiel a Deus, ia na igreja todo domingo, mas a dor da hérnia, somado as velhas babentas, só podia ser punição. E ele sabia o porque. Ele era Deus e fazia aquilo pra punir a si mesmo, mesmo sem ser intencional.
A verdade é que de vez em quando, a mente cansada do velho trabalhador, parecia escorregar para outro lugar e isso só acontecia por que ele era muito próximo de Deus. Ainda não havia entendido isso muito bem, mas de vez em quando ele parecia estar chegando quase no inferno do seu cotidiano, trocava de corpo com outra consciencia que costumava ser melhor que a própria realidade, o que nem sempre era verdade, mas com certeza ele era um escolhido. Enquanto isso Deus, ou outro Deus, ou talvez um Deus pagão, ficava no seu corpo, sofrendo, como ele sofria. Era relativamente justo, apesar de muito esporádico. Para sua sorte, no momento que sua dor parecia lhe chegar na alma... PLUFT!
Estava no corpo de Deus, ou de qualquer outra pessoa, em uma situação completamente aleatória, as vezes graciosa, as vezes insatisfatória, mas geralmente divertida. E no fundo, mesmo ranzinza em quintas chuvosas e doloridas, ou cafona nas sextas ensolaradas, Rogério era divertido. Quando saltava de corpo, recebia as memórias de Deus e sabia o que estava acontecendo. Como se fosse um instantâneo update de informações no seu facebook. Era carnaval, tava rolando uma festa num apartamento, tinha poucas luzes e parecia estar chovendo no local. 
Deus parecia poder fazer coisas absurdas acontecerem, talvez aquilo fosse só coincidência, ou efeitos especiais, mas quando ele assumia a direção não conseguia fazer nada, o que não impedia que coisas bizarras acontecessem. Havia muitas pessoas fantasiadas, andando, conversando, dançando ou transando pela casa, mas ele não parecia estar muito no clima, todo molhado, com uma camisa roxa aberta, mas enrolado numa coberta com desenhos de tigres ao luar, como se tivesse escondido, ou achando que usava uma capa de invisibilidade. Olhou para os lados meio perdido e percebeu que o lugar parecia mesmo uma algazarra.
Na sala parecia que alguém dava um show de sexo em um dos sofás, mas ele viu pouco, estava escuro, nem era pra ver, não podia, isso é pecado. Na sala do lado um policial dava batida num E.T., num Elvis Presley, no Cris Brown e em dois elfos. Da porta de um quarto viu o Papa Bento XVI, o Michael Jackson e o Arcanjo Rafael saírem, acompanhados de alguns coroinhas. 
Ele estava paralisado, segurando um copo de água, na cozinha, onde nada de estranho parecia acontecer, quando um Urso entrou caminhando pela porta e caminhou até a geladeira, onde começou a remexer até tirar uma latinha de cerveja e jogar ela inteira na boca, mastigando tudo.
Deus ficou pasmo, observando boquiaberto toda aquela selvageria na sua frente, quando a besta o encarou nos olhos. Sua alma congelou e naquele momento Rogério desejou não estar na pele de Deus. O animal esboçou um sorriso e falou:

- E aí Deus, você por aqui!
Sem reação diante do urso falante, não percebeu o cara cabeludo fantasiado parar do lado dele.
- Pô meu, o DJ se enforco na árvore lá fora, acabou com o clima do Luau - disse o Galo, com seu jeitão hippie. - Daí a galera pensou que ele tava morto e nem deu bola, mas o maluco voltou de novo a vida e ficou se debatendo gritando maconha.
- TSUKE! - comemorou o urso em japonês. - Vai rolar um baseado?
- Pô, eu to tentando acender um - retrucou o galináceo hiponga. - Mas tá díficil com essa chuva. Como é que chove no nono andar né cara?
- Loucura isso cara, mas acho que eu consigo resolver isso. - se aproximou do baseado, bateu palmas de uma forma estranha e disse - Katon No Jutsu!

Uma bola de fogo saiu de sua boca e queimou o baseado pela metade, mas acendeu na chuva. O Coringa testemunhou essa façanha e chegou repreendendo o Urso:

- O mano, cuidado aí pra não queimar meus pezinhos ali no canto, essas 3 plantas vão me render uma tonelada de maconha.
- Foi mal. - disse o Urso que deu uma baforada.
- E se aquele porco ali encher o saco? - O galo apontou pro policial na sala do lado. - Tão forte e tão perto.
- Nossa - disse o Coringa apreensivo. - Nem tinha visto, tava entretido com a Arlequina vendo um anjo meter no sofá. Pode botar fogo aí ô, dragão, vamos carburar o flagrante.
- Beleza - concordou o Urso, que soprou a fumaça do baseado nas plantas e elas pegaram fogo. Mesmo com chuva elas queimaram e eram capaz de deixar todo mundo no prédio chapados. Rogério estava horrorizado com aquilo, a única justificativa só podia ser o carnaval. Já tinha vivenciado situações improváveis, mas aquilo ali parecia estar tomando péssimas proporções. O urso olhou pra ele e falou: - Tá quietinho hoje Deus, quer dar uma bola?

Foi então que os seus pensamentos pareceram se tornar audíveis, numa voz louca feminina que gritava alto:

- VAMOS PRO INFERNO!!!

Ele olhou pro lado e viu que na verdade não eram seus pensamentos e sim uma mulher maluca vestida de palhaça que corria pela festa.

- VAMOS PRO INFERNOOO!!!

Ela passou por ele correndo e estacou de repente em frente a um simbolo desenhado numa parede. Todos prestavam atenção na maluca que continua berrando.

- VAMOS PARA O INFERNOOO!!!

Passou então a repetir muitas vezes isso e bater na parede, até que quase todo mundo ao seu redor ovacionava loucamente, gritando e pulando no chão. De repente a voz da palhaça engrossou e todo mundo silenciou. Ela mordeu a ponta do dedo e desenhou algo na parede com sangue. O Rogério já tava achando que a brincadeira tava ficando muito pesada. Um cara fantasiado de viking apareceu com uma cruz, do meio do povo, mijou em cima dela e depois tacou fogo. Ninguém sequer esboçava uma reação, então a Arlequina terminou seu desenho e entoou em voz firme:

Ecclesiam suam ædificavit supra firmam petram!

Nesse instante Rogério voltou a sua vida, a sua dor nas costas, ao seu inferno, mas estava aliviado e se perguntando se Deus não era completamente maluco.

16/03/2013

Burrice tem limite

Chovia dentro do apartamento do nono andar. Mas isso só acontecia, é claro, porque se tratava do apartamento em que Deus vivia. Para aqueles que estão desinformados e ainda não sabem o que está acontecendo, aí vai um resumo do quem acontecido com Deus desde o big bang: Muita coisa. Muitos estudiosos tentam entender a figura do Criador de Todas as Coisas, mas pouco se sabe até agora. Cientistas já encontraram a Partícula de Deus, mas isso não explicou muita coisas para as pessoas em geral.
Alguns acreditam que Deus não existe, ou que ele tá pouco se fodendo pra nós (estes não estão completamente errados), mas como todo aquele bom cristão deveria saber, Deus tá de férias a um bom tempo, dando uma festa

12/03/2013

Dias de chuva

Para Deus, todos os dias são praticamente iguais. São raros os momentos verdadeiramente marcantes na vida do Criador de Tudo. O Big Bang foi um deles, já que foi o nascimento Dele. Duas vezes ele acidentalmente derrubou coisas no planeta terra e se lembrava bem disso. Uma das vezes passava por perto com um sorvete, que acabou causando uma era do gelo no nosso planeta. Outra das vezes jogava ping-pong contra Jesus e acabou dando uma cortada que atingiu a terra e extinguiu os dinossauros. O mecanismo de defesa do Criador, em situações de emergências costumava ser algo bem interessante e estranho, chuva.
Uma vez ele próprio virou chuva e caía sem querer das nuvens repetidamente todos os dias, por milhares de anos. A sensação era como cair de cara no chão, coisa que aconteceu também, quando foi uma criança mal cuidada pelos pais.
Atualmente Deus estava no corpo de um jovem brasileiro de vinte e poucos anos e apesar de ter acordado de bom-humor, havia chovido o dia inteiro. Quando saiu de manhã atrás da sua deusa loira, já estava chovendo. Quando seu palio velho estragou, ele quase se afogou na chuva andando de bike. A meia-noite desse dia, ele trouxe de novo a vida os mortos, que andavam pelas ruas em pleno carnaval, dançando na chuva. Mesmo que ela não fosse intencional, Deus devia ter percebido que aquilo não era um bom sinal.
Passou o dia todo se fodendo pra chegar em casa e dar de cara com uma festa, organizada por Jesus Cristo, que não havia pedido a permissão do Todo Poderoso, que aliás estava muito insatisfeito com a quantidade de pessoas. Desde o gramado na frente do prédio dele, preenchendo todos os corredores, até o seu apartamento e o vizinho no nono andar. Na área de festas na cobertura tava rolando um luau com um bando de hippies.
Chegou pronto pra dar um esporro na galera quando apercebeu-se de uma garota linda e sexy, usando única e exclusivamente uma lingerie vermelha, escrito "Kinder Bueno" na calcinha. Como se estivesse enfeitiçado, começou a dançar em volta dela, mesmo depois de ouvir o aviso de J.C. de que ela tinha apenas quinze anos e Ele todos. Ao passar pela divina cabeça um meio de aproximação, viu também um lampejo de  fogo nos olhos da menina. Se tivesse olhado com atenção ao invés de desejo, teria notado que o Capeta estava no corpo dela.
Não que isso fosse fazer qualquer diferença afinal, porque naquele momento tocaram em seu ombro e quando virou-se o coração parou por um instante. Era o Sargento Moraes. Viu-se um relâmpago luminoso e tudo ficou em silêncio e escuro até a chegada do estrondoso trovão. Começou a chover dentro dos apartamentos.
- Opa - falou o Sargento baixinho e careca. - Pelo visto tem problema nos encanamentos por aqui.
Deus ainda estava sem reação, perplexo e quase cagado nas calças. No dia anterior o mesmo guarda tinha dado uma multa de mais de mil reais pra ele e agora estava dentro da sua própria casa no carnaval, quase flagrando o momento em que ele ia tentar pegar uma garota menor de idade. Como Deus era homem e não podia chorar, geralmente era por isso que chovia muito em momentos de desespero. Deus chorava pelo clima ao seu redor, um nítido indicador do seu humor.
- E então Sr. Deus - continuou o policial de cassetete na mão. - Não falei que ia te fazer uma visita? Não vai me dar as boas vindas?

Nesse momento o DJ Lokão, um garoto de 17 anos fantasiado de Rainha de Bateria, que estava tocando na festa, mas tinha desmaiado depois de um breve surto psicótico, voltou a vida. Levantou de sobressalto onde tinha sido deixado quase morto e começou a andar de um lado para o outro como se imitasse uma galinha. O que ninguém sabia até então, era que na verdade quando Deus chegou no lugar, o loirinho teve um susto tão perto e tão forte que não desmaiou, morreu. Mas o que as pessoas na festa também não sabiam, era o fato dos mortos vivos estarem de volta a vida, coisa que nem Deus sabia porque estava acontecendo. Ao contrário do que se pensa sobre zumbis, aqueles que andavam pelas ruas no carnaval, não tinham fome de cérebros, como mostram os filmes, mas na verdade sentiam uma imensa vontade de fumar maconha, o que era até normal acontecer no carnaval.

- MACONHA! MACONHA! - gritava o DJ Lokão enquanto batia os braços. - EU QUERO MACONHA! AGORA!
- AAhhhhhh - disse o Srgt virando pra direção do loiro que parecia mulher. - Então sua turminha é disso? É disso que Deus gosta, desses viado que fumam maconha?

Nesse momento Deus pirou. No mundo real, J.C. apareceu tentando conter a rainha de bateria. Do quarto ao lado saiu um cara pelado, usando uma camisinha azul e um cara de cabelo vermelho, usando um roupa de masoquista preta em todo o corpo, deixando de fora somente a pica, protegida por uma camisinha vermelha. O policial teve a atenção desviada, mas em sua cabeça Deus tava longe.
Voltou a ser criança, brincando em dias de chuva com barquinhos de papel. Tudo parecia tão fácil e simples naquela vida, que naquele momento parecia ter milhares de anos de diferença, e talvez tivesse mesmo. Seria maravilhoso se tudo voltasse ao normal, se pudesse ser tão feliz quanto era naquele tempo, criando coisas de papel ao invés de barro, carne e osso. Em suas várias experiencias como humano, não podia dizer que as dificuldades não existiram, ou que passou por elas com tranquilidade.
Uma vez foi um garoto atlético e eufórico, que em uma brincadeira com os amigos, apostou que poderia saltar do ponto mais alto de uma cachoeira e sair ileso. Sabendo que era Deus, julgou que nada aconteceria, mas caiu de cabeça numa pedra e ficou paraplégico, além de muito feio e impotente. Não conseguiu se livrar daquele corpo até ele morrer com 93 anos de idade. Suas 38 tentativas de suicídio foram frustradas, principalmente pelo fato de só ter movimento com as sobrancelhas. Aquela vida foi um verdadeiro inferno, já que se acidentou aos 13 e desde então nunca saiu da cadeira de rodas.
Mas a ideia de um dia em uma penitenciaria brasileira era mais assustadora que a existencia do próprio inferno. Sem reação e consciencia do que se passava, voltou a si e viu uma confusão em torno do DJ viado. J.C. estava do lado do maluco, segurando um copo de agua e um baseado e o Coringa ria descontroladamente do lado. O policial tinha desviado sua atenção de Deus por um instante enquanto dava batida em cinco malucos que tinham chegado num Uno prata. Foi nesse momento que Deus aproveitou para desaparecer como num passe de mágica, tirou do bolso uma capa de invisibilidade e foi pro lugar onde tava rolando o luau se esconder.

09/03/2013

O Olho do Diabo

Como Deus pode ver todas as coisas e sabe de todas as coisas, podemos presumir que outro ser existente que queira se opor ao Todo Poderoso, ou que se considere um igual, tem que ter, no mínimo, poderes parecidos, ou tão bom quanto. É sempre importante para tal devaneio, esclarecer algumas coisas. Satanás,  Lúcifer, ou o Pai dos Demônios, não é o inimigo de Deus. Lúcifer, como todo bom cristão deveria saber, era considerado um dos anjos preferidos do Senhor e por isso Deus o mandou para o Inferno, de onde ele continua cumprindo as vontades do Criador do Universo. Muita gente acha que esse ex-anjo é o Diabo e que ele representa uma ameaça aos planos divinos, mas estão completamente enganados. E como vocês puderam perceber, ser o preferido de Deus não parece ser uma boa coisa, Jó que o diga.
O verdadeiro inimigo de Deus, que as vezes até intitula a si mesmo como "Diabo", é na verdade um outro ser, cujo plano de existência é muito maior que a de humanos, anjos ou demônios. E como não é bobo nem nada, também assume formas e mesmo sem o Grande Pai de Todos saber, vive sempre por perto Dele, fazendo Deus tropeçar na frente de mulheres bonitas, ou pisar acidentalmente em bosta de animais, como no dia em que Deus acordou dormindo em cima de um cocô gigantesco, milhões de anos atrás. Era madrugada de domingo de Carnaval e mais um vez o Dianho tava pregando peças em Deus. Dessa vez ele tinha assumido a forma de uma deusa, que se divertiam na festa que tava rolando no Santo Apartamento.
O Perfeito Criador de Todas as Coisas tinha acabado de chegar em casa e se deparar com a folia, que já tinha se estendido ao apartamento vizinho, a área de lazer na cobertura e todos os corredores do prédio. Quando num piscar de olhos chegou em casa no meio da escuridão, várias luzes de emergência colorida se acenderam e algumas pessoas fantasiadas na festa, tiraram sabres de luz pra ajudar na iluminação. Um DJ fantasiado de Bozo operava um maquinário sonoro enquanto outras pessoas se juntavam envolta de um garoto magrelo  e loiro, fantasia de Rainha de Bateria.
Jesus veio correndo em sua direção, enquanto a ira de Deus atingia níveis astronômicos, quando seus olhos avistaram uma garota, usando somente uma lingerie vermelha, escrito "Kinder Bueno" na calcinha fio dental que ela usava. Ao ler isso, Deus esqueceu tudo que havia acontecido até ali e sentiu uma imensa força crescendo dentro de si, estava embasbacado e babando. Jesus parou do seu lado, percebendo a direção que seu Pai olhava e aproveitou a deixa:
- Gostosa essa aí. - disse J.C. como quem não quer nada.
- É - concordou Deus vidrado, quase babando. - Delícia.
- Tem muita gatinha nessa festa. - falava descontraído e se balançando no ritmo da música. - Quer um gole?
- O que você tá tomando? - Perguntou o Criador.
- É água - afirmou Jesus. - Mas eu posso transformar em vinho se preferir.
- Não - disse Deus ríspido e tomou o copo da mão do Salvador. - Assim está ótimo, preciso tirar o gosto de ácido da boca.
- Dá uma olhada naquela guria fantasiada de leoa - Jesus apontou pra uma guria alta, com um lindo sorriso e cabelos compridos que pareciam uma juba encaracolada. - Linda né.
- Nem parece uma leoa, mas é linda mesmo. - disse o Todo Poderoso olhando rapidamente e voltando sua atenção pra dama de vermelho. - Aquela ali tá sozinha?
- Veio com umas amigas - respondeu o filho do Senhor. - Mas acho melhor você nem pensar besteira.
- O cabelo dela é muito psicodélico, parece que muda de cor. - disse Deus observando a garota sexy dançar descontraidamente, dando risadas marotas. - Vou levar ela pro paraíso.
- Pai - disse Jesus sério. - Você tem milhões de anos, ela tem quinze.
- Esse corpo é de vinte e poucos - retrucou Deus, que piscou com o olho direito e diminuiu o volume da barba em 60 % - Assim ela vai gostar mais.

J.C. ficou preocupado, mas dada a situação em que a festa se encontrava, deixou pra lá e voltou para a lá e voltou para a sala com o sofá de nuvem pra pegar a Maria Madalena.  Aquele sofá era incrível, era azul e parecia normal, mas qualquer pessoa que sentasse, saberia dizer que ele era divino. O que todos diziam era que sentar nele era como sentar em nuvens. Jesus sabia que isso era verdade e pra se pegar com alguém era melhor ainda, mas quando chegou lá, o Coringa se divertia com a Arlequina. Deus ia dançandinho na direção da garota de lingerie vermelha. A cada passo que dava seu cabelo parecia mudar de cor, entre loiro, azul e vermelho. Deus não sabia se era por causa das drogas ou algum tipo de efeito especial que a guria estava usando. Quando se aproximou teve a impressão que o olho da garota estava em chamas. Mal sabia ele que ela estava com o demônio no corpo.
Enquanto isso na sala escura com o sofá de nuvem, os casais estavam definidos. No sofá das nuvens de 3 lugares estava o casal de palhaços.No de dois lugares tava o filho de deus e a sua ex-prostituta, no outro estava um casal que ninguém conseguia identificar, mas pelos barulhos e gemidos que se ouvia, junto dos movimentos maliciosos que se ouvia, fazia com que todos que entravam na sala se sentissem mal por um instante, ao saber que havia pessoas transando no local, sem serem elas, mas logo esqueciam e continuavam suas vidas como se nada tivesse acontecendo.
Em um dos quartos da festa, estava dois do discípulos de Jesus pelados, totalmente alucinados com a ideia de um bacanal. Eram eles São Thiago e São Judas. Em outro quarto o Papa Bento XVI, um cara fantasiado de Michael Jackson e o arcanjo Rafael, cheiravam cocaína junto dois garotos vestidos de coroinhas, que afirmavam vividamente que fariam qualquer coisa pelo Santo Padre. Bem ao estilo carnaval brasileiro, qualquer pessoa cristã que entrasse no local saberia que não havia outro fim para aquela festa, se não o inferno. Deus não estava nem aí se todos iam pro inferno, não era culpa dele, nem autorizado a festa ele tinha, cada um que cuidasse dos seus próprios problemas e ele estava cheio disso. Sua única preocupação naquele momento era experimentar um pouco daquela "Kinder Bueno". Estava em transe, hipnotizado, como se estivesse enfeitiçado, até que o sargento Moraes cutucou seu ombro e o seu mundo caiu.

04/03/2013

Há uma semana

No Caribe ou em alguma praia qualquer, se eu fosse Deus eu estaria lá, a beira-mar, com uma bebida gelada na mão, vendo as ondas baterem a tarde toda. Estaria acompanhado de algumas mulheres lindas e nuas, tomando sol distraído e cronometrando as indas e vindas do mar. Ou talvez, ao invés de estar na praia, viajaria pelo universo, desbravando estrelas e sistemas solares, observando planetas e surfando nas caudas dos cometas.
Comenta.
Ser Deus parece ser fácil, mas por vezes o Todo Poderoso me faz enfrentar situações no lugar dele, pra que eu tenha a ciência que merda acontece até pra ele, Soberano do Universo. Neste exato momento ele se encontra no Céu, que não é seu local preferido no Universo. Se fosse pra seguir sua própria vontade, ele provavelmente estaria em algum litoral da Terra, mas faz parte das atribuiçoes de Deus, mesmo estando de férias, dar as caras lá no Céu pelo menos uma vez por semana, pra resolver os principais problemas que tem  por lá.
Uma vez um projeto hidráulico revolucionário falhou e depois de quarenta dias consecutivos de chuva, Deus foi obrigado a abandonar seu jogo de golfe na galáxia de Andrômeda e voltar pra resolver, fechando a torneira da lavanderia.