Que Pena!

Domingo pela manhã, de um chuvoso dia que se iniciava. Silêncio absoluto, nenhum movimento, a verdadeira imagem do Apocalipse. Parecia que uma horda de Zumbis tinham atacado a cidade durante a madrugada, mas não era nada demais, só mais um Carnaval no Brasil.

Lá pelas oito da manhã os sinos começaram a tocar e uma procissão de idosos tomou as ruas. Alguns velhos chutavam as pessoas bêbadas caídas no chão  Outros ajudavam e maioria nem percebia. Um grupo de senhora abria caminho com pás, e vassouras, dando extrema-unção pra algumas pessoas na rua e jogando água benta nas outras. O único lugar onde as pessoas ainda festejavam era na casa de Deus.

Não estou falando de igreja, estou falando de um apartamento no nono andar de um prédio, em uma cidade do Brasil, onde ele havia fixado residencia a algum tempo. Mesmo sem autorizar, ou se quer saber o que estava acontecendo, quando chegou em casa no sábado a noite, a festa já tava rolando. Se o mundo parecia que estava acabando ou acabado, aquele lugar parecia o próprio fim dos tempos. Depois que abriram um buraco na parede por onde todo o inferno podia ir parar direto na cozinha do apartamento de Deus, o Caos se instaurou e todo mundo naquele lugar parecia ter perdido a sanidade.

Alguns procuravam a Razão em algum canto, mas no fundo todos sabiam que "ela tinha saído pra tomar um cafézinho" e enquanto ela não voltasse, todos agiriam loucamente, como se fossem seres desprovidos pensamento racional. A verdade era que a Razão não gostava do Carnaval Brasileiro e viajava pro lado negro da lua durante o festival da carne.

A festa na casa de Deus já estava caótica por si só. Alguns achavam que isso ocorria pelo motivo do dono da festa ser O Criador do Universo, Todo Poderoso, que tinha organizado o festerê, mas nada justificava tamanho sucesso, já que chovia dentro dos dois apartamentos em que ocorria a festa e a policia andava pelos cômodos da casa dando batidas em pessoas aleatórias e suspeitas, ou que cometiam crimes absurdos, como matar uma pessoa por ser chata.

Os DJ's que tocavam na festa pareciam ter algum tipo de problema. O melhor deles, era uma bicha louca que tinha se matado três vezes durante a noite, em meio a surtos psicóticos e que voltava a viver subitamente, depois de algumas horas abandonado em algum canto. O DJ reserva era bobo e estava fantasiado de palhaço, o que dificultava na credibilidade do seu trabalho.

Quando os sinos da igreja começaram a bater um novo grupo de pessoas começaram a chegar do inferno. Os primeiros foram Os Mamonas Assassinas, famosa banda brasileira. Vinham todos fantasiados, como faziam em seus shows, usando pantufas, mas faltavam alguns membros pra eles e por isso eram acompanhados por anões que os ajudavam a se locomover. Do Dinho, o vocalista, só tinha a cabeça que era usada como um chapéu por um dos meio-homens e um braço que o anão mais safado usava pra dar tapa nas bundas das mulheres.
Logo atrás veio o John Lennon e uma versão Zumbi da Yoko Ono, ou talvez a própria, ninguém soube distinguir. E então apareceu a estrela principal, Lúcifer, divinamente belo, alto, ereto, com o peito nu, usando uma calça de couro justíssima, com um cabelo louro comprido até a cintura, como se fosse um elfo extremamente lindo.
Deus estava na festa, disfarçado de mago, usando uma coberta pra esconder a cara e com uma varinha de madeira na mão. Quando percebeu que Lúcifer tinha chegado, saiu da casa e foi pra rua, evitando se encontrar com o Anjo Caído. Quando chegou na frente do seu prédio, se encontrou com um grupo de idosos que rumavam pra igreja e seguiu com eles, embalado nas cobertas sem dar atenção pras repreensões dos velhos. Junto deles se sentiu em paz e quando chegou na frente da igreja, chegou a conclusão que precisava acabar com aquela folia que estava rolando no seu apartamento. Mal o carnaval tinha começado e ele ia ter que acabar com ele. Principalmente porque Ele desconfiava que os fatos ocorridos na noite anterior podiam ter um dedo do seu arquirrival no meio.