Quando se começa a contar uma história, os personagens precisam ser apresentados. Para quem ainda não sabe, deus é como se fosse um carinha vendo o circo pegar fogo, pra depois pensar em algo pra fazer. Diz a lenda que ele trabalhou uma vez, muitos milhões de anos atrás, durante seis dias e depois entrou de férias. De lá pra cá o que ele faz é um grande mistério, mas é muito provável que em dias de chuva ele não saia de casa. O lance na verdade é que deus conhece muita gente e muito perguntam sobre elas. Satanás por exemplo ele conhece um gato. Lúcifer ele lembra que jogava War com o J.C. em dias de chuva.
Algumas pessoas que ele conheciam, eram pessoas especiais, eram como se fossem outros deuses. Alguns aliás, tinham consciência disso, outros todavia, agiam como meros mortais. Mas nas ruas de cada cidade que andava, deus reconhecia nos semblantes aqueles que tinham tanto poder quanto ele, mesmo não sabendo, ou fingindo não saber. Certa vez deus estava andando por uma cidade, tudo parecia deserto, o vento assoviava solitário. O único som audível vinha de uma gaita em algum bar longe dali. A cidade parecia amarronzada, e deus achava que estava visitando o velho oeste. Ele normalmente perdia a noção de tempo e espaço, cada dia para ele era como se fosse algo inexplicável e atemporal. Enquanto deus andava nas ruas de Pitanga VelhOeste, em Curitiba ao mesmo tempo, deus trocava uma ideia com Adam Douglas debaixo da chuva.
Anyway, a noite caía enquanto deus explorava as ruas eram de pedra, com um silêncio assustador quebrado pelo forte pio de um pássaro agourento voando sobre sua cabeça, e alguns agitos inquietos na vegeteção, foi quando deus viu uma luz azul piscando no meio das arvores. Quando ele se aproximou tentando entender o que era aquilo, ele viu que tinha o formato de uma camisinha e brilhava com uma luz forte e florescente.
Nada mais se via, até que de repente a camisinha azul florescente sumiu e alguém começou a andar na direção de deus. A principio ele não reconheceu a figura, de barba ruiva e chapéu na mão, vinha um cara com o cabelo vermelho, um sorriso maroto, palitando os dentes com um pequeno galho de cânhamo, com uma camisa preta e reluzente semiaberta, estufando os peitos enquanto arrumava a gola, baixinho, o cinto de emo chamava bastante atenção, com muitas lantejoulas e um all-star colorido e surrado no pé. Ele foi se aproximando de deus com a vista torta, olhando meio de lado, enquanto uma moça esbelta de uns treze anos saia de trás dele correndo seminua, segurando alguma coisa nos braços.
- Thiagaun, - disse deus- eu não vejo você desde o dia dos namorados.
- Como é que é? - disse o caubói confuso coçando a cabeça e mastigando o galhinho.
- Uns dois anos atrás? - disse deus.- Não tá lembrando??
- Óia, eu num tô lembrado nem de conhecer o sinhor - disse o baixinho olhando torto.
- Não tem problema, talvez você estivesse muito bêbado, ou eu, ou quem sabe isso nem aconteceu ainda. Sei lá.
- Oce tá me chamando de bêbado?
- Não, de forma nenhuma. Deixa pra lá - disse deus meio agitado. - Afinal de contas, o que tem pra fazer nesse lugar?
- Eu tava me divertindo com uma lady ali - disse thiagaun meio carrancudo apontando pro mato de onde ele e a moça seminua sairam. - Caso você não tenha percebido a sua presença atrapalhou o caminho da natureza.
- Você quer dizer que não tem mais nada pra fazer além de praticar pedofilia ao ar livre e ficar trancado dentro de casa?
- Aceita chá?
- Claro.
Foi assim que deus conheceu o filho do cara que estava quase de partida para o Inferno, pensando em fazer uma reforma por lá: Seu Zoney.
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