Pergunte pra Deus

25/01/2014

O Demônio Prateado - Parte 2

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 O Lobo Fantasma



- Seu tio João é um homem de sorte por ter você por perto - disse um senhorzinho de bastante idade, meio curvado. - Você é um garoto bom.

- Ouviu alguma coisa ontem Seu Jurandir? - perguntou o garoto Raul, ainda com suas roupas militares. Tinha chegado a poucos minutos na cidade, pois tinha passado o final de semana em plantão com seu batalhão. Ele estava cansado, mas agora tinha uma semana pra tentar descobrir o que estava acontecendo. A loja do seu tio tinha sido atacada novamente, o segundo domingo seguido. Dessa vez eles haviam ido a igreja, de manhã, e o lobo atacou novamente. Como não conseguiu forçar a entrada na porta que o sobrinho de João havia reforçado na semana passada, atacou a horta na parte de trás da mercearia e da casa.  Também destruiu a casa de ferramentas, com quase tudo que havia dentro, e o galinheiro, matando mais de dez galinhas.

- Desculpe meu filho - respondeu o velho pesaroso -, mas eu ouço muito mal nos dias de hoje. Não ouvi nada, mas vi alguma coisa.

- O que o senhor viu? - perguntou o jovem ansioso.

- Minha visão também não é muito boa - disse o homem curvado, colocando as mãos em cima dos olhos para olhar pra cima e encarar Raul. O velho encolhido não chegava a 1,40 enquanto o garoto já passava dos 1,70 -, enxergo melhor de longe do que de perto. - e chegou mais perto. O garoto também se aproximou e sentiu o hálito de fumo do Seu Jurandir, que sempre estava com um cigarro de palha na varanda. - Eu acordei cedo aquele dia, como sempre, e estava fumando na varanda e tomando café. Vi seus tios saindo pra ir a igreja e até os cumprimentei quando passaram pelo portão. No horizonte, lá pro final do pasto, tinha algo se movendo, mas eu não percebi. Por um tempo eu fiquei confuso filho. Porque era como se fosse uma luz ou uma nuvem, eu fiquei olhando e ele demorou a se aproximar. Quando de repente eu senti um calafrio e via a mancha acelerar e foi quando eu vi que era um animal, como um cachorro, ou um lobo, mas lobos não atacam de dia. Era grande, muito grande e eu corri pra dentro pegar minha espingarda, demorei um pouco e quando saí para fora não vi mais nada. Eu fiquei muito tempo na varanda esse dia e não escutei ou vi mais nada. Achei que se tivesse acontecido alguma coisa, seu tio me falaria.

- Ele acha que não é um problema sério - retrucou o jovem. - Diz que vai montar armadilhas, mas essa fera destruiu todas suas ferramentas de trabalho.

- É uma fera grande.

- Eu vou encontrar esse animal e resolver o problema - afirmou o garoto com convicção. O velho deu um sorriso. acreditava que aquele garoto seria a solução. Muita gente tinha inveja dele, mas o coração era muito puro e em diversas ocasiões Jurandir foi ajudado por ele. - Muito obrigado Seu Jurandir. Eu estou indo visitar minha mãe.

- E vai a pé mesmo dessa vez? - Indagou o senhor de idade.

- Vou - afirmou o garoto - quero conversar com o pessoal da região, descobrir mais sobre esses ataques.

- Tá certo garoto, vá com Deus.

- Obrigado, que Deus te abençoe.




O garoto seguiu pela estrada principal, que levava a fazenda de sua mãe e no caminho conversou com outras pessoas que também foram atacadas. Sempre a noite e com as casas vazias, um animal ataca propriedades e causava grande destruição. Geralmente em semanas de lua cheia, motivo pelo qual alguns diziam que se tratava de um fantasma da lua. Apesar de alguns relatos fantasiosos, quase todos estavam convencidos de que era uma espécie de lobo e que podia ser morto com tiros, como qualquer outro animal. Raul preferia não ter q matar qualquer animal, mas estava disposto a isso caso não conseguisse espantá-lo. Passou o dia inteiro conversando com as pessoas pela estrada, se aproximando das casas pra pedir água e até foi convidado para o almoço na casa de uma família que comprava no mercado do tio dele.
Eles tinham uma grande propriedade e também haviam sido atacados duas vezes, porém o tio de Raul era único até o momento que havia sido atacado de dia. Como a maioria foram dois ataques em uma semana de lua cheia, e da segunda vez, Nicanor, o dono das terras enfrentou o animal. De acordo com sua descrição, a fera não era cachorro nem lobo, mas sim um monstro. Semelhante a um lobo, mas enorme, quase do tamanho de um cavalo. O atirador afirmava ter acertado o bicho, pelo menos duas vezes, mas o animal não parecia ter sofrido ferimento algum.
Raul impressionou-se com a história, mas era claro que o homem deveria estar exagerando um pouco no tamanho. De qualquer forma, havia um consenso, a fera era branca. Alguns diziam que era um cinza claro, outros falavam que o animal parecia brilhar a luz da lua, porém, todos os avistamentos eram rápidos. O garoto percebeu que a fera chegava a atacar 3 ou 4 vezes no mesmo lugar e que parecia ir cada vez mais para perto da propriedade da mãe dele.
Chegou em casa por volta das cinco da tarde e tomou um café com sua mãe. Depois contou-lhe as histórias que havia ouvido e que pretendia montar uma vigia para procurar o bicho depois que descansasse. Iria até os extremos da fazenda durante a madrugada, armado. Os ataques eram sempre no início das noites, quando não havia pessoas em casa, ou durante as madrugas, tarde da noite, enquanto famílias dormiam. Nicanor, o fazendeiro que havia enfrentado a besta, não morava muito longe e havia se deparado com o "demônio", as 5 da manhã, no horário que acordava para tirar leite das vacas.
Estranhamente seu tio fora o único atacado a luz do dia. Por isso decidiu que as 4 da manhã sairia a procura daquele animal maldito, fosse ele um lobo, um fantasma ou um demônio. Fosse ele o que fosse, mesmo que fosse um monstro, ele estava preparado para fazer o que fosse preciso.


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