Era quase como uma lenda urbana. Alguns diziam que se repetissem o nome dele 3 vezes, como mágica ele aparecia, enfurecido, e ofereceria um doce. Mas ninguém sabia o verdadeiro nome dele pra tentar o feitiço, conheciam o apelido, Candyman. Sim, assim como outros personagens dos meus contos de uma tarde de verão, Candyman era outro traficante da "turminha". Não se conheciam ainda, mas todos sabiam da existência dos seus concorrentes e seus apelidos.
Candyman, também conhecido como Pelé, era um negão de quarenta e poucos anos, manco de uma perna e meio louco, de acordo com a crendice popular. Era o mais velho dos negócios, pois começou a vender o tal do "bike" na década de 80, quando começou a usar e não parou mais. Alguns diziam que ele era meio lesado por ter usado a substância durante quase toda sua vida e com certeza ele não era um cara normal.
De vez em quando ele andava pela cidade feito um mendigo, outras vezes como um maluco e na maioria das vezes como um rapper americano completamente sem noção. Andava em carros extravagantes e coloridos, com muitas correntes penduradas pelo corpo e com grandes casacos de pele, mesmo sua cidade não sendo tão fria assim. Pra piorar ele andava armado e com um parafuso a menos, por isso de tempos em tempos alguém morria sem querer.
"A gente tava brincando" dizia ele aos risos, mas todas as vezes que matara alguém, tinha sido por motivos estratégicos. Ele sabia muito bem o que estava fazendo, mesmo quando andava por aí feito um maluco. Sua mente era afiadíssima e ele estava sempre alerta. Era uma tarde quente de verão, quando um dos seus vendedores ligou pra ele:
- E ae Pelé, chegou a remessa?
- Chegou cara, Kama-sutra e Coelho da Alice já estão na mão, vai querer quantas?
- O preço ta bom? Tô querendo umas 3.
- Mesmo de sempre, daqui uns dias chega outra remessa já.
- Legal. Passo pegar elas daqui uns vinte minutos, pode ser?
- Tranquilo, vou estar em baia, cola lá.
- Tem uma garota querendo pegar contigo também, ela disse que tem uns clientes dela interessados.
- Passa meu celular pra ela, fala pra ela me ligar.
- Beleza, é Eva o nome dela.
- Ok.
- Conhece alguém que passa pó?
- Ouvi falar de um tal de Barão, mas não conheço ele.
- Vou procurar. Tá sabendo do Haxixe que tá rolando na city?
- Não. Quem foi que conseguiu uma raridade dessa?
- Uma estrangeira, acho que é árabe.
- Vamos atrás dessa guria então.
- Certeza.
- Então fechou, quando você passar aqui a gente vai da guria do haxixe e do maluco do pó.
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